sábado, 10 de julho de 2010

A "visão poética"

Com toda a licença a meu grande amigo Marcone, mas vou desenvolver aqui uma ideia que ele me apresentou uma certa vez.

Estavámos em um bar em São Paulo quando Marcone me apresentou o conceito da “visão poética”, usando de exemplo uma garota que estava sentada na frente do espelho, e ele me comentou que a tal garota era horrível na primeira visão real, entretanto sua posição perante o espelho refletia uma imagem apaixonante, e que ele se sentiu atraido a aquela garota, justamente por sua imagem sedutora, ainda que não condizia com o real.

E isso me fez pensar.

Acredito que o que diferencia um poeta de outro homem são dois fatos: prática e visão poética. Qualquer um pode escrever qualquer coisa, e no ínicio tenha certeza que vai ser horrivel. Pode ser que não rime e pode ser que não faça sentido. O que vale neste momento a persistência e a prática, porque com o tempo as arestas vão sendo ajustadas e os versos vão se encaixando com mais facilidade, as palavras aparecem com mais clareza, e a vontade de escrever incentiva o homem comum. Quanto mais se escreve mais natural fica, mais fácil fica. A diferença de um homem para o poeta é que este ultimo continuou tentando, e aprendendo, e errado, e tentando e acertando.

Ligado a este tema, este homem desenvolve uma maneira única de ver os acontecimentos cotidianos, ou seja, desenvolve uma visão romantizada. E isso foi chamado por nós de “visão poética”, quando o escritor procura nos fatos do dia a dia, cenas que possam render algum verso, ou acontecimentos que lhe chame a atenção. Mas não é simplesmente assistir o fato, porque muitas vezes não há o fato em si, contudo, o importante é prestar atenção em cada parte, em cada movimento e, de uma forma romantizada, conseguir recontar.

O homem comum ve a moça do espelho e pronto. Talvez comente sua feiúra e só. Mas o homem com sua visão poética ve a moça do espelho e além, ve as diferenças, as semelhanças e tenta desvendar os sonhos dela. Este homem ao andar de onibus presta atenção nas pessoas que o rodeia, e investiga mentalmente qual será a novela de vida que cada um possui. E assim, o poeta transforma isso em palavras, e com a prática faz rimar.

Pode parecer que não existe, mas isso acontece de uma forma tão natural que é quase imperceptivel.

Perguntaram a Tom Jobim sobre as mulheres que ele escrevia em suas músicas, e sua respsota foi que não chegou a conhecer todas elas. Umas eram suas amigas, outras eram sua própria esposa, outras ele nunca chegou a conhecer, outra ele viu a personagem na novela...

Portanto, o que vale é a paciencia e a persistencia. A tranquilidade de se observar atentamente aos fatos cotidianos e tendar dar a eles uma remontagem diferente, com mais humor, com mais amor.

*inicialmente publicado no site: http://brunoperrella.blogspot.com/

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