sábado, 2 de outubro de 2010

Sinto

Fale com o coração, fale com a alma.

A maior dificuldade em escrever é romper a barreira daquilo que é superficial, que pouco afeta, aquilo que não é real.

Não quero forjar sentimentos, nem cair no erro comum de tentar forçar a poesia.

Mas eu sinto, muito.

E é um misto de incerteza, de insegurança, medo e paixão.

Se de todas as ânsias incontrolaveis e doentias que eu tenho, eu pudesse, como num tribunal, absolver uma, seria a ânsia de amar.

Mas curiosamente, não há nada mais assustador para mim do que perceber o início de uma paixão.

Como um esfomeado eu corro, e tento me esbaldar neste prato que deveria ser cuidadosamente apreciado, sentido.

O gosto que fica na minha boca é um misto do prazer pela satisfação momentânea e do medo de azedar a comida com minha angústia e descontrole, de quem há tempos desaprendeu a comer.

Eu, que sempre justifiquei minha solidão na inexistência de amores que compensassem, ou na minha incapacidade de conquistá-los, caí na desgraça de encontrá-lo.

E agora, irônicamente, meu maior desejo é poder, neste mesmo tribunal, me render.

Olhar nos teus olhos e confessar:

Eu sinto muito, mas não sei mais amar.