Fale com o coração, fale com a alma.
A maior dificuldade em escrever é romper a barreira daquilo que é superficial, que pouco afeta, aquilo que não é real.
Não quero forjar sentimentos, nem cair no erro comum de tentar forçar a poesia.
Mas eu sinto, muito.
E é um misto de incerteza, de insegurança, medo e paixão.
Se de todas as ânsias incontrolaveis e doentias que eu tenho, eu pudesse, como num tribunal, absolver uma, seria a ânsia de amar.
Mas curiosamente, não há nada mais assustador para mim do que perceber o início de uma paixão.
Como um esfomeado eu corro, e tento me esbaldar neste prato que deveria ser cuidadosamente apreciado, sentido.
O gosto que fica na minha boca é um misto do prazer pela satisfação momentânea e do medo de azedar a comida com minha angústia e descontrole, de quem há tempos desaprendeu a comer.
Eu, que sempre justifiquei minha solidão na inexistência de amores que compensassem, ou na minha incapacidade de conquistá-los, caí na desgraça de encontrá-lo.
E agora, irônicamente, meu maior desejo é poder, neste mesmo tribunal, me render.
Olhar nos teus olhos e confessar:
Eu sinto muito, mas não sei mais amar.
sábado, 2 de outubro de 2010
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