segunda-feira, 27 de julho de 2009

Eu queria viver uma vida em que esta fosse a ilusão e os sonhos a realidade, pois enfim poderia conviver com a dor, a mentira, a morte e sonhar com a felicidade sem ter medo de despertar.

Quando eu acordasse, ligaria o antigo rádio e me alegraria em ouvir as notícias que nunca mudam.
Tomaria meu café, que seria fraco, pois não haveria pó, e comeria o pão velho com prazer.
Desceria o morro com calma, sem ter medo das balas dos traficantes ou de perder o ônibus das 5h15.
Chegaria na fila cedo, e não me incomodaria com a infortuna espera de cinco horas para concorrer a vaga de auxiliar na empresa de calçados que acabara de abrir no centro.
A incerteza quanto ao sucesso e a dor pelo estômago vazio não me perturbariam e iria contente buscar nos restos da feira de quarta, o alimento para o corpo cansado.
Não sofreria com os olhares desconfiados das pessoas ao ver o garoto com a roupa social improvisada revirando o que para eles é lixo, e para mim seria vida.
Atravessaria a cidade a pé, feliz pela companhia da lua que despontara no seu. Caminharia lembrando com saudade da minha família, e da forma injusta com que os pedi, mas não sentiria dor e nem tampouco revolta. A escuridão do caminho e a companhia das estrelas não me fariam ter medo da solidão que encontraria ao chegar em casa.
Subiria o morro correndo na esperança de ouvir o restinho do clássico da noite, Fla-Flu.
A derrota do Flamengo não arderia e nem mesmo os diários gritos de dor da vizinha da frente ao enfrentar a ira do marido bêbado tirariam meu humor.

Ajoelharia em frente à santa, agradecendo por mais este dia, e me prepararia para dormir e encarar a realidade.

Antes de cerrar os olhos, espiaria a lua pelo buraco da janela e abriria um leve sorriso. Enfim o dia acabara.

A noite me lembraria que por mais que o doloroso dia parecesse tão real, aquilo tudo não passava de uma ilusão, e que só bastava eu dormir para sonhar e encontrar a segurança da realidade.

E a felicidade.

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