domingo, 28 de junho de 2009

O passado

Não, este texto não tem absolutamente nada relacionado ao filme do Babenco.

Quero falar sobre o passado, mas não simplesmente abordar a questão temporal "passado/presente/futuro", quero ir além disso.

Estava pensando sobre o quanto as pessoas falam sobre a tal capacidade de mudar a própria vida. "Mudar o futuro".

- Faça as coisas de forma diferente! É você quem escolhe seus caminhos!
- Mude seus hábitos, coma melhor, saia mais, saia menos.
- Use filtro solar (bleeh)

Quando nós resolvemos pensar no futuro, geralmente a atitude mais comum é, de fato, analisar o presente.

Até aqui tudo parece lógico.

Esta conexão presente-futuro é quase tão óbvia quanto a passado-presente, quando se diz que nós somos um produto de tudo o que vivemos.

Somos, portanto, fruto do nosso passado. Mas será que é só isso?

O motivo que me leva a esta reflexão é perceber que o passado é sempre visto como algo "imutável":

- O que passou, passou.
- Não adianta chorar pelo leite derramado.

Hoje entendi que ao contrário do senso comum, o passado é exatamente o mais "mutável" de todos os tempos. É quase um mutante, visto a quantidade de vezes que nós o alteramos durante a vida.

Percebi que conforme a vida passa, o presente acontece e o futuro chega, o passado se modifica de forma impressionante.

O modo como eu vejo coisas que aconteceram, pessoas que passaram por mim, situações, momentos, muda muito a cada dia que passa.

Aquela que era tão "dispensável", hoje eu vejo como carinho, como amor.

Aquilo que parecia amor, hoje eu vejo como uma simples etapa.

O momento que era desesperador, insuportável, hoje eu considero o mais importante.

Nós vivemos o presente, sonhamos com o futuro, mas na prática tudo o que realmente acontece, a nossa verdadeira evolução, é entender o sentido do passado.

Conforme o tempo passa e os sentimentos se acalmam, quando você não sofre mais, não delira mais de paixão, de dor ou de ódio, a vida nos dá a oportunidade de olhar para trás e conseguir, de fato, separar o "joio do trigo".

Muitas vezes não somos capazes de dar valor a uma coisa que temos no presente. Isto é normal. Mas se um dia o futuro chegar e você olhar para trás e perceber que o passado mudou?

E você, enfim, perceber que aquilo que não tinha valor, era a coisa mais valiosa que já teve?

Há várias formas de lidar com isso. A mais comum é a daqueles que consideram o passado "um bloco de concreto" (ok, aqui eu citei o filme do Babenco). Olham para trás com nostalgia, tristeza, saudosismo.

Os membros mais otimistas do time do "passado de concreto" talvez digam que mesmo esta conclusão sendo triste, devemos seguir em frente, já que isso somehow foi importante para que nos tornássemos quem somos.

Se a idéia é desconstruir, então quero fazer o contrário. Perceber que eu precisei do futuro para ser capaz de dar o real valor a algumas coisas e pessoas do passado, e entender tudo isso como um sinal de que o presente é, portanto, o melhor momento de lutar por isto tudo.

O que eu proponho é que nós não fiquemos presos unicamente à abordagem clássica de que o tempo trás sempre coisas novas, de que devemos sempre olhar para frente.

Às vezes é muito mais lógico buscar o futuro no passado, do que viver confiando no tempo como o "senhor de tudo" e esperando o futuro virar, novamente, passado.

Se aqui há uma construção da desconstrução. Neste texto quis mostrar que também é possível desconstruir construindo, só que de forma diferente.

E tudo isso porque hoje senti falta do sol do Central Park, do cachecol listrado, do sorriso na lua, dos porquinhos... Daquilo que já foi.

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